Elio, a mais recente animação da Pixar, chegou aos cinemas em junho de 2025 com críticas positivas, mas uma bilheteria decepcionante. No entanto, por trás do lançamento, o filme esconde uma história conturbada de bastidores que envolveu mudança de diretores, reestruturação criativa e apagamento de representatividade LGBTQIA+.
Uma história que mudou drasticamente
De acordo com uma reportagem da The Hollywood Reporter, o longa dirigido originalmente por Adrian Molina — co-diretor de Viva – A Vida é uma Festa — passou por profundas alterações após feedbacks internos. Fontes indicam que a versão inicial de Elio apresentava o protagonista de forma queer, com traços de personalidade e visuais que refletiam a identidade de Molina como um cineasta gay. Sequências como um “desfile de moda com lixo reciclado” e imagens sutis de um possível crush masculino faziam parte do corte original.
Com o tempo, essas características foram removidas. O personagem Elio se tornou mais genérico e “masculinizado”, segundo pessoas ligadas ao projeto. Mudanças também ocorreram após uma exibição-teste no Arizona, quando o público gostou do filme, mas indicou que não pagaria para vê-lo no cinema — acendendo um alerta na liderança da Pixar. Algo muito parecido com o que aconteceu com Riley em Divertida Mente 2.

Saída de Molina e reestruturação criativa
Pouco tempo depois dessas exibições, Adrian Molina deixou o projeto. Ele foi substituído pelas diretoras Madeline Sharafian (Burrow) e Domee Shi (Red: Crescer é uma Fera), que assumiram a direção conjunta e conduziram novas alterações no roteiro. A saída de Molina teria abalado a equipe, e parte do time criativo original também deixou o projeto.
A atriz America Ferrera, que originalmente dublaria a mãe de Elio, Olga, também saiu do elenco. Fontes afirmam que sua saída teve relação direta com as mudanças na liderança e na representatividade latina. Zoe Saldaña assumiu o papel, que foi reescrito como a tia do protagonista.
Lançamento, bilheteria e repercussão
Elio chegou aos cinemas com apenas US$ 20,8 milhões arrecadados no fim de semana de estreia — o pior desempenho de estreia da história da Pixar. Apesar disso, o longa recebeu 81% de aprovação no Rotten Tomatoes e uma nota A no CinemaScore.
Ainda assim, ex-funcionários da Pixar lamentam a descaracterização da obra original. “Elio se tornou um filme sobre nada”, disse um ex-artista do estúdio. “Removeram a identidade e a essência do personagem”. A série Ganhar ou Perder também sofreu grandes mudanças e teve diversos enredos retirados.

Discussões internas e o futuro da Pixar
A crise em Elio reacendeu debates dentro da Pixar sobre a abordagem de temas diversos. Embora muitos apontem o dedo para a Disney, algumas fontes alegam que a pressão para “neutralizar” conteúdos sensíveis vem da própria liderança da Pixar. Um exemplo citado foi o pedido para remover qualquer menção ao divórcio em um projeto em desenvolvimento.
Mesmo com o fracasso de Elio, a Pixar encerrou 2024 em alta com o sucesso bilionário de Divertida Mente 2 e prepara Toy Story 5 para 2026. Antes disso, o estúdio lança Hoppers, um novo filme original previsto para março, que também enfrentou pressão para suavizar mensagens ambientais.
Elio ainda está em cartaz nos cinemas, mas o impacto de sua produção interna já se tornou um dos capítulos mais polêmicos da história recente da Pixar.